Opinião/Review - "O coração de Simon contra o mundo" de Becky Albertalli - Porto Editora

Boa tarde Novelitos!

Sei que há imensa gente que deseja ler ou pelo menos já folheou este livrinho com curiosidade, assim sendo, e esperando que vos convença a pedi-lo emprestado ou a trazê-lo para casa, deixo aqui a minha opinião.




Sinopse

Simon Spier tem 16 anos e os únicos momentos em que se sente ele próprio são vividos atrás do computador.

Quando Simon se esquece de desligar a sessão no computador da escola e os seus emails pessoais ficam expostos a um dos colegas, este ameaça revelar os seus segredos diante de toda a escola. 

Simon vê-se, assim, obrigado a enfrentar as suas emoções e a assumir quem verdadeiramente é perante o mundo inteiro.

Opinião


"O coração de Simon contra o mundo" é um livro que desperta no leitor uma grande empatia com os seus personagens logo ao virar da primeira página. 
Simon apresenta-se como um adolescente que sabe demasiado bem o que quer, mas que vive com o receio das repercussões familiares e sociais que pode vir a sofrer quando abrir o seu coração para o mundo.
Confesso que a ironização de algumas situações mais complicadas me conseguiu conquistar, talvez por de certa forma eu encontrar essa característica personalizante na minha própria personalidade, assim sendo, consegui rir mesmo quando o assunto não tinha qualquer piada e devia ser tido como sério e por vezes até reprovável.
Ao longo da narrativa vamos conhecendo vários personagens que vão acompanhando o nosso protagonista ou se tornando no rastilho para que toda a ação esperada realmente se concretize.
Devo dizer que a história da chantagem me deixou irritada, não por ter pena do Simon, mas porque a personagem que fazia chantagem era mesmo oca, não consegui criar empatia ou ódio para com ela, simplesmente estava ali, eu sabia que ia ser o rastilho, mas faltou-lhe aquela maldade que faz de um aspirante a vilão efetivamente um vilão, ainda que eu ache que este personagem passa por aquela fase de adolescente em que fazemos alguma estupidez e ao longo do desenvolvimento e da aparição das consequências associadas a essa ação vamos ficando arrependidos e queremos um botão para voltar a trás. Pois é, não o podemos fazer!
Gostei muito do núcleo familiar de Simon, havia uma ligeira obsessão por parte dos pais em querer controlar de certa forma a vida dos adolescentes que coabitam no mesmo espaço, mas quando foi preciso apoiar não tiveram medo de o fazer, aliás, devo dizer que me senti muito surpreendida com a sua atitude face à homossexualidade do filho e a forma/dia em que ele lhes contou.
Relativamente aos amigos de Simon, posso dizer que senti que apesar de haver total confiança entre os membros do grupo e uma interacção marcada por vários encontros e algumas cabeçadas amistosas, não houve aquela sensação de pertença nem de companheirismo. Acho que esperava um "backup" maior por parte dos amigos que não foi de todo bem explorado pela autora.
Falando agora na personagem Blue que só vamos descobrir quem é praticamente no final, posso dizer-vos que a autora me conseguiu enganar e que, apesar das pistas subtis, eu fui sempre seguindo exatamente o pensamento de Simon. Não posso dizer que me apaixonaria pelo Blue, mas é sem dúvida a minha personagem favorita a seguir ao nosso protagonista porque apesar de viver com receio de ser descoberto ou de descobrir que toda aquela relação "online" poderia ser destruída pela transposição do virtual para o real, sempre se mostrou um personagem bem construído, forte, socialmente consciente e acima de tudo mostrou um grande companheirismo para com o Simon, pormenor que eu não vi na relação com os amigos reais com quem confraternizava todos os dias.
Em relação ao relacionamento pós-online, posso dizer que, para mim, começou a acontecer tudo demasiado depressa, talvez  por estarmos a terminar o livro ou porque havia necessidade de mostrar ao leitor o quão real era aquele amor e aquela relação. Não achei que precisasse dessa sucessão vertiginosa de acontecimentos, aliás, é verdade que esta relação se torna muito querida e muito fofinha, mas não me parece que o leitor precisasse da rápida e excessiva demonstração de afectos que foi aparecendo ao longo dos últimos capítulos.
Toda a gente devia ter um amigo com o Simon, mais que não seja para sermos capazes de rir das nossas desgraças e saber exatamente que ele vai lá estar para nos ouvir, abraçar, aconselhar, mas acima de tudo mostrar que até nos piores momentos pode haver uma boa gargalhada.
Tendo em conta que este livro está catalogado como "Young Adult" e, a meu ver, visa consciencializar esta faixa etária para problemas sociais bastante atuais e graves como a homofobia, o racismo e o bullying não achei que estes temas fossem devidamente explorados. Entendo que seja complicado fazer com que os adolescentes gostem de ler e realmente retirem algum significado da história que mais tarde possam adaptar e moldar à sua vida, mas achei que faltou uma aprofundamento dos temas acima referidos. Penso que se dissermos a alguém que está a praticar bullying, por exemplo, e não lhe explicarmos por que razão aquela atitude está errada ou até as suas consequências que ela poderá ter na vida das vítimas, esse potencial agressor não vai entender por que motivo está a ser condenado ou por que não o deve fazer. Achei que foi um levantar de pano que poderia ter sido muito mais aprofundado e servido de alavanca para criar uma maior consciencialização social e escolar.
 A escrita da autora é muito fluída, diria até mesmo ideal para um livro de YA narrado na primeira pessoa porque é mesmo através da forma com foi escrito, que este livro se torna tão familiar e tão aconchegante porque acabamos o livro a pensar " Eu quero um Simon na minha vida e já". Ponto positivo para o ambiente multicultural e racial criado por esta autora que se assemelha ao mundo real e às escolas que tantas vezes visitamos e tão pouco nos preocupamos em explorar socialmente.
Gostei imenso deste livro, só não lhe dei as 5* exatamente por achar que faltava algo na exploração dos temas sociais porque de resto posso dizer-vos que toda a gente o devia ler, não só pela temática, mas também pela oportunidade de dar umas valentes gargalhadas.





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