Opinião - "Isto Acaba aqui" de Colleen Hoover- Topseller



Sinopse

O que te resta quando o homem dos teus sonhos te magoa? 

Lily tem 25 anos. Acaba de se mudar para Boston, pronta para começar uma nova vida e encontrar finalmente a felicidade. No terraço de um edifício, onde se refugia para pensar, conhece o homem dos seus sonhos: Ryle. Um neurocirurgião. Bonito. Inteligente. Perfeito. Todas as peças começam a encaixar-se.

Mas Ryle tem um segredo. Um passado que não conta a ninguém, nem mesmo a Lily. Existe dentro dele um turbilhão que faz Lily recordar-se do seu pai e das coisas que este fazia à sua mãe, mascaradas de amor, e sucedidas por pedidos de desculpa.

Será Lily capaz de perceber os sinais antes que seja demasiado tarde? 
Terá força para interromper o ciclo?

Opinião

Terminei este livro há pouco mais de 1 hora e continuo a tentar processar esta nova faceta que Colleen Hoover me apresentou nesta narrativa. Não sei, acho que estou tão habituada ao seu  estilo de escrita e estrutura que acabei por ser surpreendida de uma forma não tão avassaladora como é costume.
Considero que quer na versão original quer na nossa tradução, a própria capa metaforiza um pouco a vida da protagonista, a beleza que nela impera associada à destruição e reconstrução pela qual é obrigada a passar.
Lily tem uma infância bastante complicada de digerir, sou mulher, talvez por isso me cause uma certa repulsa ler sobre um tema que afeta diariamente a vida tanto de homens como mulheres que têm o azar de se apaixonar por alguém que no fundo, não é o que realmente aparenta ser. 
A entrada na adolescência e a necessidade de deixar sair toda aquela amargura que vai sentido ao longo do seu crescimento obriga-a a criar uma espécie de diário onde vai escrevendo diretamente para Elle Degeneres, como se apenas a apresentadora conseguisse alegrar os seus dias e de certa forma fosse a amiga compreensiva que ela necessita até ao dia que o seu olhar se cruza com o de Atlas.
Confesso que a par de Allysa, que só conhecemos muito mais tarde, Atlas é, sem sombra de dúvidas, a minha personagem favorita apesar de haver uma pequeníssima abordagem sobre ele, cheio de mistérios e de uma altruísmo que não é comum nos jovens de hoje em dia. Adorei a relação inocente que partilharam, o crescimento pessoal com a visão social que Lily sofreu ao começar a confraternizar com Atlas acabou por me fazer, em alguns pontos, simpatizar com esta nossa protagonista que tantas vezes me fez ter vontade de a abanar e fazer cair na realidade.
Sei que é habitual Colleen Hoover criar pequenos triângulos amorosos nos seus livros, sei também que estamos muito habituados a ler protagonistas masculinos de tirar o fôlego e nem estranhámos o facto de serem estupidamente perfeitos para a busca afetiva da nossa protagonista, no entanto, desta vez Colleen não conseguiu convencer-me de que Ryle era o príncipe encantado e que aquela história alguma vez teria um final de conto de fadas. Lamento, sei que muita gente adorou este personagem e que ,a certo ponto do livro, levaram uma grande facada no vosso coração, mas desta vez, eu não sofri, eu não chorei, eu não fiquei apertadinha por saber que alguns segredos ou atitudes iam acabar com aquele mundo cor de rosa, não, eu queria apenas que tudo terminasse e Lily ficasse livre daquele amor pesadamente tortuoso.
Achei porém que a autora se precipitou bastante a partir da segunda parte do livro, os acontecimentos foram sucedendo a uma velocidade vertiginosa e praticamente sem referência temporal o que, a meu ver, fez perder algum do potencial que este livro poderia ter, acho que senti que algumas explicações me foram roubadas e que os momentos que a autora foi criando para conferir um avanço na narrativa foram simplesmente sendo despejados para que houvesse esse mesmo desenvolvimento, acho que se avançou sem que grande coisa se fosse desenrolando. Pensei seriamente que iria ser mais forte, um enredo mais dramático e devo dizer-vos que a explicação usada para os acontecimentos mais violentos não me convenceu de todo a desculpar ou sentir pena do nosso protagonista. Não me interpretem mal, não estou a dizer que um acontecimento tão traumático não se transforme numa espiral depressiva que altere o comportamento de uma pessoa, mas usar isso como desculpa para os ato abusivos não é de todo algo que eu consiga digerir e procurar compreender, por muito que isso possa ser a resposta a esses impulsos.
Todo o enredo de "Isto acaba aqui" foi criado com um propósito e talvez por isso não exista aquela familiaridade entre o leitor e o habitual desenlace/desenrolar da narrativa, isto é, eu acredito que este livro não foi um simples romance ou uma tentativa de colocar um tema dramático e atual num tom romanceado, penso sinceramente que a intenção foi consciencializar os leitores para esta realidade e acima de tudo permitir que de alguma forma sejam capaz de se colocar no lugar de quem é vitima, ver a agressão e o processo de absorção, perdão ou rejeição a crescer dentro da própria vítima.
Confesso que não chorei, mas refleti, o que por sua vez, lendo no final a nota de autora, era o pretendido pela mesma quando decidiu trazer cá para fora algo que era tão seu, tão pessoal e presente no seu seio familiar. Foi preciso coragem e um engenho brutal que só Colleen Hoover consegue transmitir e transpor para palavras, tiro-lhe o chapéu por isso. A autora foi capaz de representar não só a perspectiva da vitima, mas também de  entrelaçar com ela os pensamentos que quem está de fora tem e muitas vezes utiliza para julgar ou dizer "Se fosse eu...". Foi extremamente inteligente colocar uma espectadora como vitima porque permitiu ao leitor ter acesso a uma narração introspectiva que confere ao livro uma alta capacidade de familiarização com quem o está a ler, isto é, todo o leitor sabe de alguém ou foi vítima deste pesadelo e ao colocar as duas faces na mesma personagem, a autora consegue que todo e qualquer leitor de alguma forma se identifique com os pensamentos ou atitudes da protagonista. 
Considero este livro uma chamada de atenção, um aviso para que não fechemos os olhos e sejamos capazes de denunciar ou ajudar quem precise realmente de sair de um inferno como este.
"Isto acaba aqui" é um livro bom, pessoal e acima de tudo carregado de lições que nos fazem perceber quão egoístas, desdenhosos e cruéis conseguimos ser quando não compreendemos que o que se passa dentro de quatro paredes não é tão linear como pensámos que é e às vezes o mais difícil não é sair e procurar ajuda, é sair e continuar a viver com o peso que fica no peito sabendo que se teve que abandonar um amor que simplesmente ruiu ao primeiro "acidente". 

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